quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ruínas


Eu vi por entre uma densa poeira
Um edifício tão bem construído
Ruindo parecendo de brincadeira
Deixando tudo o mais destruído

Era de poucos andares
Parecendo bem solidificado
Nele não havia pesares
Só amor multiplicado

Tinha por base o amor
Que parecia reciproco e verdadeiro
De entrada uma linda flor
Que te encantava por inteiro

O primeiro andar era firmado
Na cumplicidade e no respeito
O segundo era reforçado
De amor puro e sem defeitos

Nesse andar se refletia
Por toda a vidraça
Todo o amor e a alegria
Que nada no mundo embaça

O terceiro andar era encantado
Repleto de ternura e compreensão
Vivia embevecido com o telhado
Que para tanto amor servia de proteção

Sempre resistente aos vendavais
Que por ventura surgisse
Esquecido que dos temporais
Não tinha quem previsse

Nessa base tão fortificada
Com varões de amor entrelaçados
Com respeito solidificada
Formando um lindo emaranhado

Esqueceram que podia fazer parte
O tempo e os falsos brilhos
Escondendo uma grande verdade
Capaz de corroer qualquer trilho

Estes uma vez tendo ofuscado
Deixa vestígios infindos
Deixa qualquer vidro trincado
Sobram cacos mal vindos

O tempo nada faceiro
Pouco a pouco correu
E de modo traiçoeiro
A base que a tudo sobreviveu

e num rompante quase louco
A cortina se abriu
Libertando um grito rouco
Que aquela base feriu

Recebendo em pleno peito
A rejada da desgraça
De um vento suspeito
Quebrando todas as vidraças

Sem piedade o prédiop emplodiu
Um grito de dor primeiro
Ao ver que tudo ruiu
Deixando só o desespero

Desfizeram-se as amarras
Desataram-se os nós
Abriram-se as garras
Já não havia um nós

Porventura foram erradas
Tantas buscas desesperadas
Tantas fugas alucinadas
Para que nada pudesse desabar?

Tantos anos nessa construção
Tão cheias de sonhos
E também de aflição
Mas repletos de momentos risonhos

Que susteve em meio à lida
Um prédio que hoje em ruínas
Chora triste pela combalida
E miserável sina

Chora ao lembrar dessas vidas
Que atravessando fronteiras
Vencera a todas as partidas
Destruindo todas as barreiras

E é nesse momento porém
Entre surpresa e fascinada
Que eu vejo também
Escorrendo pela calçada

Um tímido veio de água
Nascendo de entre as borrascas
Pensa amenizar a caminhada árdua
Que prenuncia uma grande nevasca

Ele nasce manso e tímido
Ante a dúvida ou a certeza
Dessa construção talvez infinda
Que guardou tanta nobreza

Ah! quantos risos espocaram
Por entre estas paredes
Quantos sussurros foram ditos
Que pelas frestas escaparam
Quantos sonhos foram contados
Quantos planos foram traçados
Mas hoje tudo está embaçado
Na poeira dessa ruína
Foram tantas lágrimas
Tantas tristezas e dores
Mas tudo se desfazia
No arco-íris dos odores
Quanta satisfação
Quanto néctar colhido
Nos momentos de paixão
Por vezes de amor ferido
Mas hoje soluços gritantes
Mostra a dor desse peito
Por vezes não obstante
Por ter um grande defeito
Envelhecer com o tempo
Perdendo todo o encanto
E como todo evento
Que cai no marasmo
Dos anos ídos
Onde todo o sarcasmo
Já põe tudo findo

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Cada andar que foi subido
E em cada corrimão
Suave e desinibida
Trabalhou com maestria tua mão
Mas se dissolvendo no tempo
Lenta e com covardia
Se fora toda a graça
Só veio traiçoeira e arredia
As marcas da maturidade
Desfazendo as falsas alegrias
Arrebatando com fugacidade
Toda a tua emoção
Novo prédio que se ergue
Ou será fruto da imaginação?
Tens por abrigo nova marquise
Ou simplesmente planos
Pra novos rumos novas construções?
Ou será que o medo da velhice
Que sorrateira se aproxima
Te cegou
E num lampejo
Soprou-te aos ouvidos
O que parece ser canalhice

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A casa ruiu o sonho acabou
Projeto mal acabado
Por quem o arquitetou
No traçado dessa tênue linha
Uma outra mais firme
A realidade te lançou
Que belo edifício
Deixaste o tempo a base corroer
Mas o alicerce
Ainda parece firme
Aos vendavais resistiu
Os pilares apesar de retorcidos
Magoados e feridos
Permanece de modo sutíl
Lutando
Contra todo o material vil
Que surge nas grandes edificações
Tentando destruir
Majestosas construções
Que um dia o destino
Com amor e dedicãção
Achou por bem construir


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